sexta-feira, dezembro 23, 2005

Disturbed Piece

Este é um blog com o qual tenho tido contacto. Tenho encontrado lá frases e ideias que tenho apreciado bastante, mas acima de tudo são as emoções que transmitem que me têm mantido preso. A última foi "Sabes como me sentia só de saber que ia estar na tua presença?". Não consegui deixar lá um post, por isso deixo-o aqui.

É uma frase brutal. Não tem nada de difícil na sua interpretação, seja ela qual for (porque tem duas, lá chegaremos), e no entanto é a ideia que transmite por mim ressoando e ecoando na minha cabeça, que me faz reagir a ela. É sempre assim, eu acho: alguém diz algo de uma maneira que faz com que ganhe uma forma, estrutura, e é a partir dessa materialização interna que a ideia transmitida se torna passível de magoar, se for esse o caso, ou de rir, ou de pensar, como se as sensações precisassem de consistência para se propagarem. O facto de não ser de interpretaçlão difícil não o diminui. Só porque as ideias complicadas precisam de ser descodificadas antes de serem percebidas, não faz delas melhores que as que caminham às claras. Quando muito, entretêm o leitor durante a descodificação, nada mais.

"Sabes como me sentia só de saber que ia estar na tua presença?" é uma frase que faz pensar e depois de se pensar, faz doer. Suspeito que tenha tido origem uma única intenção, mas saiu assim, maravilhosamente dúbia. Não é erro, nem é acaso fortuito ou golpe de sorte. Não há tais coisas, mas disso falarei um dia. O que é verdade é que há uns tempos, ficaria despedaçado se alguém lesse no que escrevo algo melhor que aquilo que eu próprio consegui antever na altura em que o escrevi. Ficaria desolado com a ideia de o meu esforço todo se ter concentrado somente num objectivo e ter conseguido algo melhor mas inadvertidamente e sem eu próprio ter dado por ela, como se escavando no chão à procura de cinco cêntimos, os tivesse encontrado e saído dali todo contente, deixando à vista do próximo que por ali passasse o resto do tesouro. Não mais. O tempo ensinou-me que um texto é tanto daquilo que se escreve quanto daquilo que se lê. E mesmo que seja a mesma pessoa a fazê-lo, basta que o faça em alturas diferentes, em contextos diferentes, para que o resultado seja constantemente diferente - o que por si só dizia tudo.

"Sabes como me sentia só de saber que ia estar na tua presença?" - pode ter então, duas leituras consoante o significado que se der à palavra só. Assim pode ler-se "Sabes como me sentia, só de saber que ia estar na tua presença?", onde "só" significa "apenas", ou tal com está escrita e onde "só" pode significar "sózinha". E esta frase carrega muitas implicações, um novelo intrincado delas, mas o meu objectivo aqui está cumprido: fazer a apresentação e introdução ao tema e deixar as interpretações para quem lê, que é aí que está a piada desta coisa toda.

1 Comments:

Blogger Daniel Marinha said...

Fico contente que tenhas gostado e não precisas agradecer. Inicialmente tinha tentado comentar no blog, onde tinha lido o post e ficado a pensar naquela frase. Mas por algum motivo, durante 3 dias, não foi possível escrever nada no blog - dava sempre erro. Não queria perder a oportunidade de dizer algo e ao fom de algum tempo decidi-me por fazê-lo no meu sítio.. E por me teres dado um (outro) motivo para escrever, o meu agradecimento vai para ti.

terça-feira, 03 janeiro, 2006  

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