terça-feira, junho 24, 2008

Círculo fechado

Círculo fechado em si mesmo, aborrecido.
Aberto, exposto, distante com uma única linha, sem espessura alguma, e limita as marcas e marca os limites: sem acesso.
A entrada, se alguma vez houve, já não se lembra, e a saída não faz sentido, nem tenta.
Por dentro, os caminhos ladeados de árvores feitas de sol e sombra, a animação fresca do vento, o ritmo interrompido das chuvas eventuais, todos os cambiantes sazonais que caiam os muros, não existem.
A única realidade é a altura mas está fora do plano. O tempo passa mesmo que não se queira, e pelo menos isso é igual em todo o lado. Pouco mais há a esperar que esperar.
Círculo fechado.
Aborrecido.

terça-feira, abril 22, 2008

Fosse a fantasia realidade e eu sonhado, apenas, em silêncio

"Uma palavra de madeira cai no chão
caixão
dessa maneira."

sábado, abril 21, 2007

A menina dança?

Na sequência de um post publicado no Sinapses e depois da notícia intitulada "A esperança de salvação para as crianças que morrem sem ser baptizadas" do Público online, sou obrigado a dar um tempo a mim mesmo para me recompor antes de tentar digerir tudo isto. Antes de mais, a notícia. E devo dizer que toda a discussão se baseia no que li da notícia já que ainda não tive oportunidade de ler o comunicado oficial do Vaticano. E isto é só uma maneira simpática de dizer que o mais provável mesmo é não o ler.

Ao que parece uma coisa chamada Comissão Teológica Internacional (CTI) esteve encarregada de tratar da questão do limbo desde 2004. E não me refiro ao limbo em que se tenta passar por debaixo de uma vara com os pés assentes no chão e sem tocar em mais nada. No fim de cada tentativa bem sucedida toda a gente berra "Limbo!" e baixa-se a vara um pouco mais. Mas duvido que a CTI fosse gastar muito tempo com isso até porque é coisa que perde a piada rapidamente. Este limbo refere-se antes à sala de espera onde as almas aguardam pacientemente a chegada do senhor doutor para serem consultadas e saberem se está tudo bem ou se vão precisar de mais tempo de tratamento. Pode-se argumentar que para efeitos práticos, O CTI discutir uma ou outra ia dar ao mesmo, mas isso seria simplificar demasiado uma questão já de si demasiado simples.

A saber: há dois tipos de limbo - o limbo dos pais e o limbo das crianças. O limbo dos pais é para as almas que viveram uma vida boa e de acordo com os princípios e moral católica, mas que por serem precipitadas e morrerem antes da segunda vinda de Cristo à Terra, ficam portanto na tal sala de espera do consultório aguardando melhores dias. Espero que hajam revistas que cheguem para todos. O limbo das crianças é para as alminhas ainda mais precipitadas e que morrem mesmo antes de serem baptizadas. Deve perceber-se que o baptismo é o seguro de vida das almas: desde que as condições da apólice sejam cumpridas em vida, o tomador de seguro pode estar sossegado na morte. Caso contrário... limbo com eles. De qualquer das formas as almas seriam privadas do Céu mas pelo menos não iam parar ao Inferno. São Tomás d'Aquino disse que as crianças estariam repletas de alegria e seriam totalmente permeáveis ao desalento de não terem conseguido entrar no Céu. Um argumento na linha do que diz que a ignorância é o paraíso. Quase terminando a estória, deve saber-se ainda que no Sec. V já havia teólogos, ainda que não houvesse CTI. Santo Agostinho foi um deles e na altura lembrou-se que se a salvação eterna só era concedida aos baptizados, então aos que morressem sem o serem só lhes restava o Inferno. Mais tarde no Sec. XIII um outro teólogo lembrou-se que isso não era nada bem e que as crianças iam mas era para esse tal limbo em vez de para o Inferno. Ainda que essa versão não tenha servido ainda para uma resolução teologicamente definitiva, na minha curta experiência de vida posso dizer que já tive contacto pessoal com situações em que esta versão menos extremista foi teologicamente aplicada - só que desta vez não por um teólogo, mas por o que quer que seja que fica hierarquicamente mais abaixo.

Chega-se então à mais recente conclusão sobre o limbo das crianças, ou melhor à "esperança de salvação para as crianças que morrem sem ser baptizadas", pela voz do CTI. E a conclusão é que há "sérias razões teológicas para crer que as crianças não baptizadas que morrem se salvarão e desfrutarão da visão de Deus", tendo em vista que Deus é misericordioso "e quer que todos os seres humanos se salvem" e que "a graça tem prioridade sobre o pecado e a exclusão de crianças inocentes do céu não parece reflectir o amor especial de Cristo pelos mais pequenos". Ainda que esta declaração não tenha propriamente um tom conclusivo, tenham fé que isto é do mais conclusivo que poderão alguma vez ouvir da parte dos representantes da Igreja.

Tendo agora em vista o post anterior, isto pode (e deve) ser interpretado como um suicídio teológico, já que "o problema da fé é que encontrar um único erro nas suas afirmações seria transforma-la imediatamente num único e gigantesco erro, porque a fé se diz ideologicamente absoluta". Mas esta não é a primeira vez que a Igreja se retrai ou se estica consoante o meio ambiente. Não, a Igreja tal como todas as instituições, também parece obedecer à Teoria da Evolução. Este efeito só se torna aparentemente observável em escalas de tempo alargadas, dái a Igreja ser um exemplo perfeito. Já aconteceu por exemplo com a visão da criação do mundo e do aparecimento do Homem (agora estupidamente contestada pela "teoria" do Criacionismo), a inexistência de qualquer tipo de "Éden" geográfico, a visão geocêntrica do Sistema Solar, as Cruzadas, a Inquisição, enfim... Nem todas foram oficialmente admitidas, mas é tudo uma questão de tempo até o serem, e depois até à altura em que deixarão de o ser outra vez. Qualquer pessoa pode ver que a justificação comum a todas essas tomadas e inversões de atitude na lista se devem a manobras de interesse político ou de poder. Esse é o processo evolutivo da Igreja e não é exclusivo sequer dessa Instituição, quanto mais dessa profissão religiosa. Mas algumas chegaram mesmo a ser oficialmente contraditas. Isso não quereria dizer que a serpente já começou a engolir a própria cauda? Sim e ainda bem que repararam. No entanto continua aí, serpenteando com mais ou menos força, a dizer-se a mesma Igreja: imutável, segura, verdadeira, Absoluta. Então porque ainda não foi desmascarada? Como pode uma Instituição dizer-se absoluta e no entanto evoluir?

Porque na verdade não muda nem evolui. Não era bem por aqui que eu me queria explicar. Mas vai ter de ser. A analogia com a serpente a engolir a própria cauda não será a mais precisa, nem a mais simpática. A Igreja é mais como o provervial escorpião que atravessa o rio às costas de uma tartaruga. O escorpião é a Igreja e a tartaruga somo nós. Ora o que acontece é que cada vez que a Igreja faz uma coisa como estas, ela está a picar a tartaruga com a sua cauda venenosa. Então a pergunta passa a ser "Porque é que o escorpião ainda não se afogou?". A resposta é "Porque tartarugas há muitas".

A imagem da serpente está errada porque a Igreja não está propriamente numa de autofagia quando se contradiz, por dois motivos: primeiro porque nunca se contradiz; segundo porque quando se contradiz, fá-lo com muito jeitinho para ninguém dar por ela. Seja como for, não se atinge com os próprios golpes. A Igreja não se contradiz, ou melhor diz que não se contradiz. Consegue isto ao não dizer nunca nada. Deste modo pode dizer exactamente o contrário a seguir que ninguém repara porque dá muito trabalho perceber os teólogos. Assim as admissões de erro nunca são assim tão admissivas e isso faz com que os erros não sejam bem erros. Ou melhor ainda, que sejam erros ou não consoante lhes convier melhor. E isto é conseguido ao ser feito com muito jeitinho. Ou seja, hoje o Sistema Solar orbita em torno do Sol. Muito bem, toda a gente concorda com isso, temos toda a certezinha absoluta que sim, e ficamos todos felizes. Mas já houve uma altura em que era exactamente o contrário e que a única coisa comum era a certezinha absoluta. Ah, mas isso já foi há tanto tempo, coitados, na altura era para o que lhes dava, e olha, deixa lá isso. E pronto. A seguir o CTI junta-se e diz que há "sérias razões teológicas para crer que o Sol está no centro do Sistema Solar", deixando espaço para mais à frente poder dizer que afinal há "sérias razões teológicas para crer que não", e que o Heliocentrismo foi há tanto tempo, coitados, na altura era para o que lhes dava, e pronto, deixem lá isso, com o desplante de uma menina inocente. Só que nessa altura podem não precisar de ser tão simpáticos.

Na Arqueologia da Teologia, esta coisa do limbo deve ser vista como um fóssil duma espécie de transição entre uma menos e outra mais evoluida. O limbo é mais um Archaeopteryx na linhagem evolutiva da Igreja do Criacionismo. E a menina dança. Oh se dança!

sexta-feira, abril 20, 2007

Viagem

*crzzcrt* Boas tardes senhores passageiros, daqui fala o vosso Capitão de bordo. Estamos neste momento a sobrevoar o Atlântico. Depois de subirmos até 10.000 pés manteremos essa altitude até atingirmos o continente. Asseguro-vos que as condições atmosféricas serão as ideais durante todo o voo. Para além das comodidades a que a nossa companhia de aviação vos habituou, poderão agora encontrar do vosso lado direito um leitor de música ao vosso dispôr. Se detectarem qualquer problema com o dispositivo, poderão contactar qualquer elemento da equipa de assistentes de bordo - que também sou eu - por email. Poderão comentar a qualidade da selecção musical com total liberdade, desde que seja para darem os parabéns. Aos que tiverem opinião contrária, relembro que todos os lugares estão equipados com microfones escondidos que se encontram armadilhados. Para o caso de os tentarem encontrar: qualquer gesto errado causará ejecção imediata do passageiro e todos os que o conhecerem. Os valores do pára-quedas e da bóia serão acrescentados à factura. Agarrados à bóia encontarão um livro de reclamações e uma caneta, bem como uma cápsula de cianeto para o enjoo.

Por esta altura poderão já desapertar os cintos de segurança. Espero que a viajem seja do vosso agrado. *crzzcrt*

terça-feira, abril 03, 2007

Ex-citações

A citação é uma espécie de transfusão de responsabilidade das nossas acções para as palavras de outro. Essoutro é normalmente alguém que trata a fama por tu e cujas conclusões são muito mais permeáveis ao escrutínio da crítica pública.

Já desde tenra idade que recorro a esse método. Quando por exemplo me davam uma tarefa para cumprir em que esta extravasava largamente as minhas competências, havia sempre o cuidado de me instruirem no fim: "Diz que fui eu que disse". Do outro lado alguém iria estranhar ao ver-me a fazer fosse o que fosse, já que eu nunca fui muito desses que fazem o que fazem, e então, se me perguntassem algo para além do que eu sabia, a coisa resolvia-se com um simples "Foi ele que disse". E era remédio santo.

Era, porque nos entretantos este método deixou de funcionar e vá-se lá saber porquê, agora todos me responsabilizam pelo que eu faço. Logo agora que isso vinha mesmo a jeito. Como se isso não bastasse, a responsabilidade pessoal não termina no que se faz, pelo contrário, ramifica-se como uma metástase até mesmo ao que fica por fazer. Os bons velhos tempos da infância já lá vão e o que nos resta é a esperança de encontrar o mesmo consolo lá nos confins da vida, quando estivermos aconchegados nos braços maternos da senilidade à espera do toque de saída para o recreio. Até lá, esperam-nos todas essas quotidianidades que nos impedem de gozar a vida ao mesmo tempo que são no fundo, a nossa única forma de o fazer. Enfim, tudo muda... se por "tudo" entenderem nada e por "muda" entenderem muda sim senhor mas é só às vezes e quando menos interessa.

"How can I think, or edge my thoughts to action,
When the miserly press of each day's need
Aches to a narrowness of spilled distraction
My soul appalled at the world's work's time-greed?
How can I pause my thought upon the task
My soul was born to think that it must do
When every moment has a thought to ask
To fit the immediate craving of its cue?
The coin I'd heap for marrying my Muse
And build our home i'th' greater Time-to-be
Becomes dissolved by needs of each day's use
And I feel beggared of infinity,
Like a true-Christian sinner, each day flesh-driven
By his own act to forfeit his wished heaven."


Fernando Pessoa in 35 sonnets (1918)

Foi ele que disse...

quinta-feira, março 15, 2007

Prazeres

Umberto Eco publicou um novo livro chamado "A passo de gambero" (tr. A passo de caranguejo). Infelizmente não vou poder usar palavras minhas para descrever o livro porque ainda não o li. Aliás, ainda nem sequer o comprei. Para ser honesto, até agora a única coisa que consegui fazer - melhor dito, ainda não consegui parar de fazer - foi aguar. Assim, fica aqui a nota de edição, retirada daqui.

Nota de Publicação:

“Os escritos reunidos neste livro foram publicados entre o início de 2000 e o final de 2005, os anos do 11 de Setembro, das guerras no Afeganistão e no Iraque, da instauração de um regime de populismo mediático em Itália. Ao lê-los, o leitor comprovará que desde o fim do último milénio temos vindo a caminhar para trás a um ritmo dramático. A seguir à queda do Muro de Berlim foi necessário desenterrar os mapas de 1914. As nossas famílias voltaram a ter empregados de cor, como em E Tudo o Vento Levou. A pouco e pouco, o vídeo fez com que a televisão se pudesse converter num cinematógrafo e, graças à ajuda da Internet e das pay-tv, Meucci levou a melhor sobre Marconi e a sua telegrafia sem fios. Agora, o i-Pod reinventou a rádio.

Terminada a Guerra-fria, os conflitos no Afeganistão e no Iraque fizeram-nos regressar à Guerra Quente; desenterrámos o Grande Jogo de Kipling e voltámos aos tempos do choque entre o Islão e a Cristandade, com os novos assassinos suicidas do Velho da Montanha e os gritos de «socorro, os Turcos!».

Apareceu outra vez o fantasma do Perigo Amarelo, ressurgiram as disputas entre a Igreja e o Estado, a polémica antidarwiniana do século XIX e o anti-semitismo, e o nosso país voltou a ser governado pelos fascistas (muito post, é certo, mas alguns indivíduos ainda são os mesmos). Quase que parece que a História, cansada das confusões dos últimos dois mil anos, se está a enrolar em si própria, caminhando velozmente a passo de caranguejo.

Este livro não pretende explicar o que é que devemos fazer para reencontrar a direcção certa, propõe-se apenas travar por alguns instantes este movimento retrógrado.”

Deixo também a tradução de um excerto de uma entrevista sobre o anterior livro "La misteriosa flama de la Reina Loana" (tr. A misteriosa chama da Rainha Loana), onde Eco faz o que eu adoro: unir os extremos de uma questão. O original pode ser encontrado aqui.

"Não conheço ninguém que tenha vivido apenas com Johann Sebastian Bach e Shakespeare. Vivemos vendo TV; ouvimos canções. Tenho sempre em mente um artigo de Proust: "“Éloge de le mauvaise musique,” ou elogio à má música. O que por vezes chamamos má música, a música popular, foi parte das nossas vidas e contribuiu para nos formar, tal como somos. Faz parte da nossa memória. Quando se faz um juízo de valor, podem fazer-se distinções - porque motivo Shakespeare é mais importante que Mandrake. Algumas pessoas dizem, "Estás interessado em cultura pop, por isso para ti, Shakespeare e Mandrake são a mesma coisa.". Isso é idiótico. Quando não nos nos embrenhamos em julgamentos críticos, mas ao relembrar como crescemos, a interligação entre cultura pop e alta cultura é total. Como categorizar a canção de embalar que a nossa mãe cantava quando éramos bebés - cultura pop? Alta cultura? As nossas vidas são feitas dos dois."

quarta-feira, março 07, 2007

Graffiti

A discussão sobre se o graffiti é uma forma de arte ou não aborrece-me. A arte é independente do meio através do qual se apresenta. O graffiti, como qualquer outra forma de expressão, pode ser o que o autor conseguir fazer dele: uma crítica, um passatempo, uma banalidade, uma coisa horrenda, um crime, um incómodo, uma parvoíce, um erro, uma valente caca, um acto de vandalismo, um acto ideológico, de revolta, de libertação de tensão, uma demonstração de poder, de reafirmação social dentro de um grupo de amigos, um acaso, uma conspiração astrológica, uma declaração de intenções, um lamento, um sorriso, uma pena, pode ser algo imperdoável, inesquecível, inconsequente.. enfim: um ponto de partida, um ponto final, e tudo o que couber entre os dois.

Dito isto, não me restam dúvidas de que o graffiti pode ser uma obra de arte, assim como um quadro de uma casca de banana cor de rosa ou uma sanita rachada o podem ser. Se deve ser penalizado e proíbido? Acho que sim. Se apesar disso devem continuar a fazê-lo? Acho que sim. A estética pode não justificar os eventuais problemas que causa aos proprietários dos muros, mas por outro lado, desde quando é que se exigem justificações à beleza?

Quanto ao trabalho deste senhor, não deverão haver muitas dúvidas, dado que é um artista. E arte é o que os artistas fazem. Mas não só...

quinta-feira, março 01, 2007

Entrudo

Seguem algumas fotos do entrudo de Paredes do Bairro na sua edição de 2007. Aparentemente não há um tema geral para o cortejo, pelo que o mesmo se caracteriza pela dispersão de assuntos retratados. Desde a sátira às listas de espera, patente logo nas primeiras fotos que mostram um senhor a ser tratado na maca, seguido por uma trupe de aleijadinhos que engrossa as ditas listas de espera e que fazem lembrar o thriller do Michael Jackson.












Reparem que o soro do saco do tipo que vai de maca foi substituído por um garrafão de 5 litros de vinho da bairrada, programado para verter o equivalente a "uns copitos à refeição", de acordo com as recomendações milenares. Nas fotos seguintes está a contestação à ordem de encerramento do serviço de urgências em Anadia (a 7 km) que se viu substituída pelos serviços de Coimbra ou Aveiro, incrementando a distância de deslocação para uns problemáticos 33 km. Ora, nem Coimbra nem Aveiro pertencem à região da Bairrada, pelo que os locais consideram que as alternativas não estão dotadas de equipamento especializado, tratando-se de regiões onde escasseiam os garrafões de 5L. Quando muito arranja-se uma garrafita de 0.75L de vinho que nem sequer é da Bairrada - ficando a chamada de atenção também ao problema e às dúvidas levantadas quanto aos medicamentos genéricos.

Atrelado a este carro seguia um outro que mencionava as férias dos médicos, onde foi encontrada a oportunidade para a participação de alguns membros de idade venerável. Imagino que devem estar a pensar "Então mas não eram as férias dos juízes?". Eram. Mas vamos ter um pouco de respeito pelos mais velhos e deixar esta passar. Ao fim ao cabo juízes, médicos, políticos, enfim, os celebérrimos"Doutores", fazem todos parte da mesma corja de ladrões que não fazem nada e ainda nos fodem o juízo, no coloquialismo próprio da região. Aqui o que interessa é a ideia de férias que o meu povo tem: uma mesa de plástico, um chapéuzinho de sol, uns canecos e uma saca de tremoços. Dentro do saco branco, não duvidem, está a indispensável bucha (broa e uns couratos) para segurar a fome até à hora da ceia.

O ponto final desta secção está na foto seguinte que mostra a verdade mais inalienável que conhecemos: o futuro da nossa saúde dentro de uma urna. Fechada. Nesta terra onde a grande maioria dos enterros que se queiram transparentes são de urna aberta, imaginem as implicações subcontextuais que esta imagem levanta. Pelo menos neste país onde a máxima das duas coisas certas nesta vida serem a morte e os impostos, não se aplica principalmente, mas não só, no que toca aos impostos. O Agostinha da Silva dizia que "a única certeza que temos da morte é a dos outros porque da nossa nada sabemos". Uma nota para o reaproveitamento das bandeiras chinesas do Euro 2006, um bom exemplo de reciclagem de lixo e da mentalidade intercultural da região.
O próximo bloco foi constituído por floribelas. Na imagem acima está a mais original de todas, representada pelo antigo massagista oficial da Associação Desportiva de Paredes do Bairro (ADPB), o Trinta. Reza a lenda que a alcunha vem do tempo em que foi considerado um fénomeno da natureza porque por mais que tentasse, não conseguia que o peso dele ultrapassasse a casa dos 30 Kg. Numa época em que o ganha-pão dependia da capacidade física de um homem, este verdadeiro exemplo da capacidade de adaptação das espécies, deu em endireita: vendo-se na impossibilidade de exercer trabalhos que exigisse esforço, dedicou-se ao tratamento dos que o podiam fazer. Com isto conquistou não só a sua existência como também o invejável papel de floribela principal neste cortejo. Presentemente acredita-se que o fenómeno deixou de o ser graças ao milagre da barriguinha de cerveja, mas há ainda quem não se fie na balança.

Segue-se a secção dedicada à cultura cigana, mais um exemplo do caleidoscópio cultural do povo que não se deixa ofuscar pelas diferenças de tom que os separam, preferindo celebrar as vantagens comuns. Enfeitado de pregões como "Menina bonita não paga, paga o marido" e "Tudo roubado, aprendemos com o estado", este carro ilustra como se pode brincar sem ofender, principalmente se não houverem ciganos à volta. Para se certificarem disso, havia cabeças de alho e crucifixos espalhados ao longo de toda a zona limítrofe, com reforço nos cruzamentos de estradas de terra batida.

De entre todas, a minha favorita: a foto do endereço de internettal como ele é visto pelos olhos dos Paredenses. O ano passado um cartaz dizia http://www.pt.ninguém. Este ano o resultado ultrapassou de longe as expectativas com uma combinação de elementos primários da linguagem internética, rearranjados segundo uma estética que nos transporta à época do descontrucionismo heideggeriano da década de 60. O nível atingido por este trabalho parece estrangular as oportunidades de inovação, pelo que aguardo ansiosamente o carnaval de 2008 para que o meu cepticismo seja contrariado. O dito cartaz reza mailto:w.w.w.@.podre e não deixa de ser extremamente simbólico ir às costas de quem usa a sachola.
Uma nota final para o editor de posts do blogger que automaticamente formata os endereços acima descritos por os reconhecer como links válidos. Aviso no entanto que é uma perda de tempo clicar neles. Se tivesse um desejo para pedir, desbaratava-o em saber quantos cliques foram feitos antes de lerem este último parágrafo.

quinta-feira, fevereiro 22, 2007

Mil palavras

Dizem que um imagem vale mais que 1000 palavras. Não sei. Assim por assim, não me parece. Depende da fotografia. Depende das palavras. Não sei. A mim não me convence. Seja como for, se ainda não viram as imagens vencedoras do Worldpress Photo 2007, deviam ver.

domingo, fevereiro 18, 2007

Por falar disso...

Morreu na passada quinta-feira o Sr. Robert Adler, o inventor do controlo remoto dos televisores - o comando. Contados os anéis, totalizava 93 anos de idade na altura. 58 deles foram gastos em invenções da sua autoria, das quais conseguiu registar em patente para cima de 180. Disse a senhora sua viúva que "aliás, nem via muita televisão". O sacana!

sexta-feira, fevereiro 16, 2007

Terramoto

Há alguns dias atrás, pela primeira vez na minha vida, senti a terra a tremer durante uns segundos. O meu primeiro terramoto que não teve o seu epicentro em mim mas, dizem, a sudoeste do país. Foi um momento espiritual de comunhão com Gaia que começou já a diluir-se por entre as pregas da minha memória. Nada de muito excitante. Apenas umas breves oscilações e depois o resto.. igual ao de sempre.

sexta-feira, fevereiro 09, 2007

Slam Poetry

Todos os anos é organizado um ciclo de conferências para que algumas das personalidades ditas mais influentes tenham (mais) uma oportunidade de dizerem alguma coisa ao mundo - as conferências TED (technology, entertainment, design). A coisa é muito elitista, mas este ano resolveram democratizá-la um pouco mais e disponibilizaram os videos gravados a partir de 2005. Não será difícil encontrar temas que intersectem os interesses de qualquer um. Desde Al Gore e a sua versão do apocalipse, passando por Bono Vox com o seu peditório nobeliano, Richard Dawkins pelejando contra o criacionismo ou Aubrey de Grey que apresenta o seu antídoto para a morte, acreditem: há de tudo. E vale a pena. Os videos podem ser vistos online ou guardados para mais tarde recordar.

De entre tudo isso, a minha escolha foi para o video de um tipo chamado Rives que foi declamar um poema intitulado "If I controlled the Internet" (tr. Se eu controlasse a Internet). Como não encontrei a transcrição em mais lado nenhum, a versão que encontrarão mais abaixo é da minha responsabilidade, e está sujeita a erros. Para os que preferirem em Português, saibam que vendi a minha alma ao diabo e fiz uma tradução. Deverá ser fácil perceber que há termos que, das duas uma:

1- ou são intraduzíveis;

2- ou eu não sei como os traduzir.

Não querendo influenciar ninguém, a opcção correcta é a primeira. A segunda é só para distrair. Ai de quem disser o contário.

Aqui está o link. Abaixo as transcrições.


If I controlled the Internet

If I controlled the Internet

You could auction your broken heart on eBay,

Take the money, go to Amazon,

Buy a phone book for a country you’ve never been to,

Call folks at random until you find someone who flirts really well in a foreign language.

If I were in charge of the Internet

You could map quest your lover’s mood swings:

Hang left at Cranky, right at Preoccupied, U-turn on silent treatment all the way back to tongue kissing and Good Lovin’.

You could navigate and understand every emotional intersection.

Some days, I am as shallow as a baking pan,

But I still stretch miles in all directions.

If I owned the Internet

Napster, Monster and Friendster.com would be one big website

That way you could listen to cool music while you pretend to look for a job when you’re really just chatting with your pals.

Heck!.. If I ran the web

You could email dead people,

But they would not email you back.

But you’d get an automated reply.

Their name in your inbox.

It’s all you wanted anyway..

And a message saying: “Hey! It’s me. I missed you.

Listen, you’ll see, being dead is dandy.

Now you go back to raising kids and waging peace

and craving candy.”

If I designed the Internet

Chilhood.com would be a loop of a boy in an orchard

With a sky-pole for a sword and a trashcan lid for a shield, shouting:

“I am the Emperor of Oranges! I am the Emperor of Oranges! I am the Emperor of Oranges!”

Now follow me, ok?

Grandma.com would be a recipe for biscuits and spit bath instructions “One, two, three” that links with Hotdiggitydog.com, that is my grandfather, they take you to gruff-ex-cop-on-his-fourth-marriage.daddy forms an attachment to kinda-ditsy-but-still-sends-ginger-shnaps-for-Christmas.mom who downloads the boy in the orchard, the Emperor of oranges who grows up to be:

me - the guy who usually goes too far.

So, if I were the Emperor of Internet

I guess I’d still be mortal, huh?

But at that point I would probably already have the lowest possible mortgage

and the most enlarged possible penis,

so, I would outlaw spam on my first day in office,

I wouldn’t need it!

I’d be like some kind of Internet genius, and me

I’d like the upgrade to deity, and maybe, just like that *pop*

I’d go wireless…

Maybe Google would hire this.

I could zip through your servers and firewalls like a virus

Until the World Wide Web is as wise and wild and as organized as I think a modern day miracle/oracle can get

But ooh-wee, you wanna bet, just how whack and un-PC your macka PC is gonna be when I’m rocking hotshithotshotgod.net.

I guess it’s just like life:

It is not a question of “If you can”

it’s “Do ya?”.

We can interfere with the interface

We can make “You’ve got Hallelujah!”

The national anthem of cyberspace

Every luck time we log on.

You don’t say a prayer,

You don’t write a song,

You don’t chant a “Om”.

You send one blessed email, to:

Whoeveryou’rethinkingof@ ta-ra-la-ra-ta-ta-ta-ta-da-ra-la-ta-da-ra-la-ra-la-ra-ta.com

~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~

Se eu controlasse a Internet

Se eu controlasse a Internet

Poderiam leiloar o vosso coração partido no Ebay,

Pegar no dinheiro, ir à Amazon,

Comprar a lista telefónica de um país qualquer onde nunca foram,

E ligar aleatoriamente até encontrar alguém que fosse realmente bom a namorar numa língua estrangeira.

Se eu estivesse encarregado da Internet

Seria possível mapear as mudanças de amor do nosso amante:

Virar à esquerda em Rabugento, à direita em Preocupado, inversão de marcha no Tratamento Silencioso e de volta aos Beijos e à Paixão.

Seria possível navegar e compreender todos os cruzamentos emocionais.

Às vezes, sou tão superficial como uma frigideira,

Mas ainda me espalho por milhas em todas as direcções.

Se eu fosse dono da Internet

O Napster, Monster e Frindster.com seriam todos um grande website.

Assim seria possível ouvir música boa enquanto fazíamos de conta que estavamos à procura de trabalho quando só estavamos era a conversar com o pessoal.

Se eu gerísse a net

Seria possível enviar emails a pessoas mortas,

Mas eles não enviariam nenhum email de resposta.

Mas receberíamos uma mensagem gerada automaticamente.

O nome deles na vossa inbox.

É só isso que se quer..

E uma mensagem a dizer “Olá! Sou eu. Tive saudades tuas.

Ouve, vais ver, estar morto é engraçado.

Agora vai lá educar os putos e fazer campanha pela paz

e aguar por rebuçados.”

Se eu desenhasse a internet

Infância.com seria um arco, de um rapaz num pomar

Com um pau a servir de espada e uma lata do lixo a servir de escudo, berrando:

“Eu sou o Imperador das Laranjas! Eu sou o Imperador das Laranjas! Eu sou o Imperador das Laranjas!”

Agora, acompanhem-me:

Avó.com seria uma receita para bolos e instrucções de lavagem com cuspe “Um, dois, três” e isso ligava-se a Quente-como-o-caraças.com, esse seria o meu avô, que levaria a ex-polícia-resingão-no-seu-quarto-casamento.pai que geraria um anexo para meia-tola-mas-ainda-oferece -ginginha-no-natal.mãe que faria o download do rapaz no pomar, o Imperador das Laranjas que cresceu para se tornar em:

mim – o tipo que geralmente leva as coisas longe demais.

Portanto, se eu fosse Imperador da Internet

Acho que ainda assim seria mortal, não?

Mas nessa altura já teria o empréstimo da casa mais reduzido possível e o pénis mais aumentado possível, por isso,

tornaria ilegal o spam logo no primeiro dia de trabalho.

Já não precisaria dele para nada!

Seria um daqueles génios da internet,

À espera de uma actualização para divindade, e talvez, com um estalar de dedos *pop*,

Ficava todo wireless...

Talvez a Google me contractasse.

Poderia atravessar pelos servidoesr e firewalls dentro como um vírus

Até a rede global ser tão sábia e louca e organizada como eu acho que um milagre/oráculo moderno pode ser.

Mas meu, queres apostar como vai ser rasca e não-PC o teu mega PC vai ser quando eu bombar

grandes-cenas-grandes-malhas-meu-deus.net?

Acho que é como a vida:

Não é uma questão de “Se podes”,

É “Vais?”

Podemos interferir com a interface.

Podemos fazer de “Você tem Aleluia!”

O hino nacional do ciberespaço

De todas as vezes sortudas que nos ligarmos.

Não se rezam orações,

Não se escrevem canções,

Não se canta “Om”.

Envia-se um abençoado email, para:

Quemque quesejaqueestejamapensar@ta-ra-la-ra-ta-ta-ta-ta-da-ra-la-ta-da-ra-la-ra-la-ra-ta.com

terça-feira, janeiro 23, 2007

Afinal...

Talvez hajam motivos para acreditar que não estamos sózinhos. Cientistas detectaram esta semana sinais que podem indicar a presença de vida num dos lugares mais ermos do universo. Apenas agora sondável devido à rápida evolução tecnológica que permitiu o desenvolvimento de novas e apuradas técnicas de análise de dados cosmológicos, o local foi apresentado como "o mais improvável" de ter condições de manter actividade biológica. "Foi tão surpreendente como encontrar uma flor na superfície da Lua" - disse o Professor Catedrático da Universidade do Estado de Nova Iorque, James Krukzec, em declarações recentes aos media norte-americanos.
Os dados apresentados parecem indicar a presença de símbolos "como se fossem letras" algures num local que anteriormente nunca se suspeitou. Kim Yu, responsável pela equipa que lidera esta investigação disse acreditar que os símbolos possam estar organizados "tratando-se eventualmente de uma linguagem". Ao que parece estes símbolos encontram-se dispostos na vertical e agrupados numa configuração rectangular, "quase como se fossem um post num blog".
Resta analisar mais resultados, de resto já em mãos, de modo a poder conretizar melhor alguns pormenores que ficam para já, por esclarecer. Todos os dados podem ser consultados aqui.

A comunidade científica encontra-se dividida quanto à intrepretação dos resultados apresentados até agora, com alguns dos cientistas mais proeminentes a virem a público para afirmare "que tudo não passam de especulações". Entretanto uma sondagem efectuada em conjunto pelos jornais "Washington Today" e a cadeia televisiva "FNC", fez saber hoje os resultados que indicam que cerca de 63% dos inquiridos vêem esta como uma das três mais importantes provas de vida extra-terrestre, a seguir ao fóssil encontrado num meteorito na Antártida, em anos recentes, e à Teresa Guilherme.

Acho que já fui longe demais com isto... Queria apenas dizer que está um novo post no Sinapses Perdidas.

domingo, janeiro 07, 2007

Dispersões

Desde que decidi começar a escrever blogs, sabia qual seria o tema principal: poesia. Essa pulsão degenerou e deu origem a três espaços distintos: hora obscura para a poesia e derivados, quotidianidades para coisas do meu dia a dia, e sinapses perdidas para o que não encaixasse em nenhum anteriores. Por vício de escrita, muitas vezes as quotidianidades acabaram por se tornarem numa espécie de blog satélite do hora obscura. Por preguiça de escrever, as sinapses perdidas têm tido sérias dificuldades em se encontrarem. Hoje decidi arrumar a mobília da casa. Alguns textos foram deportados daqui para a hora obscura. Pelo caminho ficaram os comentários, perdidos nalgum novelo de bits. As minhas desculpas aos autores.

segunda-feira, dezembro 18, 2006

Interpretações

Tenho andado a esforçar-me por ler uma antologia da poesia de Octavio Paz. Digo tentado porque requer algum esforço da minha parte e já havia falhado uma vez anterior em que não consegui passar do primeiro poema. Não é uma poesia auto-suficiente. As palavras são belas, as expressões magníficas. No entanto, a digestão do poema como um todo, exige um trabalho de interpretação por parte de quem a lê e que nem sempre apetece. Se virmos cada palavra, por vezes conjunção de palavras ou mesmo pequenas estrofe completas, como pequenas unidades ou blocos de uma imagem, penso ser fácil reparar no seu mérito. No entanto o significado global da peça como um todo esconde-se num qualquer recanto por detrás de uma chave de descodificação que talvez só mesmo algum estudo da biografia do autor permita obter. Talvez seja isso o surrealismo. Pretende mostrar a mecânica do pensamento tal como ele é, libertando-se de qualquer interpretação pessoal numa tentativa de representar a realidade de modo mais real, sem distorções de qualquer espécie. Como um sonho, dizem.

Pessoalmente conheço poucas coisas tão simples de entender como sendo intrínsecas e enraizadas a uma, e uma única mente, como os sonhos. Percebo o surrealismo como uma outra forma de expressão da arte, mas não acredito nos seus princípios. Há já algum tempo que os psicoanalistas deixaram de acreditar numa chave universal para a simbologia dos sonhos e passaram a responsabilizar o indivíduo pela custódia do seu próprio conjunto de chaves, obtidas sob a orientação de um especialista, claro. Um sonho é real porque é o que é. Consegue isso porque dizem, se gera e desenvolve sem a censura do consciente e dos mecanismos básicos como a auto-defesa, preservação ou aceitação. Claro que a resposta aos sonhos, mesmo durante o próprio sonho, ainda pode obedecer a estes mesmos princípios: fugimos com medo, lutamos para manter o que acreditamos ser melhor e doemos se os nossos desejos são ignorados. Mas não é disso que falo, mas do estímulo que provoca essas recções: os monstros, as guerras e as inseguranças. Os artistas surrealistas pretendem imitar esses estímulos através da sua arte, e pretendem reproduzir essas reacções. Sinceramente ignoro se esquecem ou não que ambas são fruto de uma árvore única, que não existe em mais lugar algum. E podem até ser semelhantes entre si, mas não passam disso: parecenças. E parecer não é ser.

Estendi-me um pouco. Mas a ideia é esta: sem a chave do autor, não há interpretação fiável. A chave pode ser fornecida directamente pelo artista, ou pode ser obtida indirectamente por outras formas. Mas sem ela o objecto de arte não passa de um objecto cuja arte para mim tanto pode ser isto como aquilo. Neste sentido, todos os poemas são surreais. Enquanto não se explicarem, não se percebem. Afinal, como os sonhos: a imagem é sempre fantástica; o significado depende. A verdade é que valem sempre a pena. Se quiserem, leiam Piedra de Sol. Esse foi o meu início. Para ficarem com uma ideia de como me sinto perdido a ler alguma da sua poesia, fiquem com "Um despertar".

Um despertar

Estava emparedado dentro de um sonho,
Seus muros não tinham consistência
Nem peso: seu vazio era seu peso.
Os muros eram horas e as horas
Fixo e acumulado pesar.
O tempo dessas horas não era tempo.

Saltei por uma fenda: às quatro
Deste mundo. O quarto era meu quarto
E em cada coisa estava meu fantasma.
Eu não estava. Olhei pela janela:
Sob a luz elétrica nem uma viva alma.
Reflexos na vela, neve suja,
Casas e carros adormecidos, a insônia
De uma lâmpada, o carvalho que fala solitário,
O vento e suas navalhas, a escritura
Das constelações, ilegíveis.

Em si mesmas as coisas se abismavam
E meus olhos de carne as viam
Oprimidas de estar, realidades
Despojadas de seus nomes. Meus dois olhos
Eram almas penadas pelo mundo.
Na rua vazia a presença
Passava sem passar, desvanecida
Em suas formas, fixa em suas mudanças,
E em volta casas, carvalhos, neve, tempo.
Vida e morte fluíam confundidas.

Olhar desabitado, a presença
Com os olhos de nada me fitava:
Véu de reflexos sobre precipícios.
Olhei para dentro: o quarto era meu quarto
E eu não estava. A ele nada falta
- sempre fiel a si, jamais o mesmo -
ainda que nós já não estejamos... Fora
contudo indecisas, claridades:
a Alba entre confusos telhados.
E as constelações que se apagavam.

(Trad. António Moura)





Leituras

Certeza

Si es real la luz blanca
de esta lámpara, real
la mano que escribe,
¿ son reales
los ojos que miran lo escrito?


De una palabra a otra
lo que digo se desvanece.
Yo sé que estoy vivo
entre dos paréntesis.


- Octavio Paz -

sábado, novembro 11, 2006

Dédalo

Enterrado vivo
num infinito
dédalo de espelhos,
oiço-me bem, sigo-me,
busco no liso
muro do silêncio.

Porém, não me encontro.

Apalpo, escuto, olho,
por todos os ecos
deste labirinto,
um meu dito esguio
eu sei que pretende
chegar-me ao ouvido...

Mas eu não o noto.

Alguém está preso
aqui, neste frio
lúcido recinto,
dédalo de espelhos...
Alguém que eu imito.
Se ele parte, afasto-me.
Se regressa, eu volto.
Se adormece, eu sonho.
"És tu?" eu me digo...

Mas nada respondo.

Perseguido, ferido
pelo mesmo dito
- que não sei se é meu -
contra o meu próprio eco
da mesma lembrança,
cá neste infinito
dédalo de espelhos
enterrado vivo.

- Jaime Torres Bodet (trad. José Bento)

domingo, novembro 05, 2006

..~* Coordenadas Poéticas *~..

Quando as pessoas assumem a beleza
como emanação do belo
É porque a fealdade existe
E quando assumem a bondade
como ideia subjacente ao bom
É porque existe a maldade
Portanto como conceitos entre si recorrentes
Prevalecem a Existência e a Não-Existência
Conjugam-se o fácil e o difícil
O longo e o curto rivalizam-se
O alto e o baixo contrapõem-se
A voz e o eco harmonizam-se
A dianteira e a traseira não se distanciam
O sábio rege-se pela inacção
Ensinando sem falar
Deixando as dez mil coisas nascerem e crescerem
Sem reinvindicar nisso a sua participação
Promove a sua evolução gradual
Sem nisso mencionar a sua contribuição
Nem reclamar por isso qualquer mérito
E como não se expõe
Permanece na mais absoluta solidão


- Lao Zi (China, 1º quartel séc VI a.C.)

quinta-feira, março 02, 2006

Volto Já

Fui forçado a enviar a máquina de escrever blogs para arranjar e a que usava indecentemente no meu posto de trabalho, já não posso usar mais, porque já não tenho posto de trabalho. Assim sendo, e dirigindo-me aos que quiserem saber ou aos que na eventualidade de não quererem saber mas ainda assim inocentemente acreditam que saber não ocupa lugar e que portanto mais informação menos informação não há-de fazer mal nenhum, vou estender-me numa rede entre dois troncos destas árvores de inverno que por aí estão e sentir a água da chuva que não vem a gelar e a derreter e a cair e a gritar nos rios e a morrer no mar para voltar a fazer de mim nascente, da minha pele sulcos e da minha boca campa de flores mudas debaixo de dedos que gesticulam dores mas escondem sonhos. Até lá.

sábado, fevereiro 18, 2006

S/ título

"Chorosos versos meus desentoados,
Sem arte, sem beleza, e sem brandura,
Urdidos pela mão da Desventura,
Pela baça Tristeza envenenados.

Vede a luz, não busqueis, desesperados,
No mudo esquecimento a sepultura;
Se os ditosos vos lerem sem ternura,
Ler-vos-ão com ternura os desgraçados.

Não vos inspire, oh versos, cobardia
Da sátira mordaz o furor louco,
Da maldizente voz a tirania.

Desculpa tendes, se valeis tão pouco;
Que não pode cantar com melodia
Um peito, de gemer, cansado e rouco."

Manuel Maria

segunda-feira, janeiro 16, 2006

Simplice

Hoje deposito aqui um poema de Eugénio de Andrade que se depositou em mim. Se as palavras nesse poema são poucas, as minhas sobre ele serão nenhumas.

TENHO O NOME DE UMA FLOR

Tenho o nome de uma flor
quando me chamas.
Quando me tocas,
nem eu sei
se sou água, rapariga,
ou algum pomar que atravessei.


Eugénio de Andrade

quarta-feira, janeiro 11, 2006

No meu sotão

Acabei um poema. Provavelmente amanhã estará do outro lado, onde essas coisas se pousam por entre as outras que tal..

Se tivesse um sotão, guardaria lá tudo o que escrevi, só para vê-lo ganhar pó dentro de caixotes de papelão canelado suspensos por teias de aranha ancoradas ao telhado e suspensas elas próprias no segredo da sua geometria. Um lugar onde o mais débil exalar arrancasse minúsculas partículas de pó do seu limbo, para que recomeçassem a dança espiralada que as trouxe até ali e com que assombram até a ciência. Um sotão com cordões de luz de súbito acesos ao espremerem-se por entre as frestas do telhado, como holofotes de um pavilhão de mofo e pó, e onde o inalar daquele ar seria sorver o sossego de uma madrugada estendida no horizonte. Queria sentir o ranger das fibras da madeira de pinho seco e pisado e esquecido estendido a meus pés, ainda que não fosse eu o responsável pela sua derrota, dilatando-se e contraindo-se sob o peso do meu corpo, num suave entoar da melodia escondida na natureza das coisas, mesmo que secas ou pisadas ou esquecidas, e não conseguir perceber se também eu ranjo assim. Da obscuridade fendida escapar-se-iam aromas conservados de outros tempos, que se iriam adsorver por entre as raízes do espírito, substituindo o seu imaterial sustento por aquela imagem de um espaço físico, ainda que incorpóreo, e a torrente avassaladora do mundo entraria por ali adentro sem qualquer resguardo, como no segundo em que nasci. Inundada desse ópio instrumental, a alma esquecer-se-ia de sentir e nessa ante-câmara apócrifa, poderia espreitar incólumemente o que escrevi e poisei em caixotes de papelão canelado, cobertos de pó que dança e vibra na luz e não me fariam lembrar de nada.

quarta-feira, janeiro 04, 2006

Resignação

Pouco ou nada consegui espremer dos dias que passaram. Não sei se por ter apertado com pouca força, se porque eram assim mesmo: secos por natureza. Há uma calma decalcada no aspectos das coisas... o mundo aparenta estar em poisio.. o vento mal se notou, a chuva tem rareado, o tempo arrasta-se reticente entre um dia e outro como se tivesse escolha, e por dentro da roupa pesada encolhem-se ombros ora resignados, ora com frio, em ambos os casos com óbvias diferenças nos resultados, porque se contra o frio esse gesto ainda adianta alguma coisa, no que toca à resignação vale menos que fazer nada. A resignação é a cauterização das terminações nervosas da alma. É uma espécie de segunda pele que enganadoramente se sente. Diz um dicionário que resignação pode ser também coragem face à adversidade. Que seja. Continua a valer o mesmo, apesar da novidade.


Episódios (III)

De quem é o olhar
Que espreita dos meus olhos?
Quando penso que vejo,
Quem continua vendo
Enquanto estou pensando?
Por que caminhos seguem,
Não os meus tristes passos,
Mas a realidade
De eu ter passos comigo?

Às vezes, na penumbra
Do meu quarto, quando eu
Para mim próprio mesmo
Em alma mal existo,
Toma um outro sentido
Em mim o Universo -
É uma nódoa esbatida
De eu ser consciente sobre
Minha ideia das cousas.

Se acenderem as velas
E não houver apenas
A vaga luz de fora -
Não sei que candeeiro
Aceso onde na rua -
Terei foscos desejos
De nunca haver mais nada
No Universo e na Vida
De que o obscuro momento
Que é a minha vida agora:

Um momento afluente
Dum rio sempre a ir
Esquecer-se de ser,
Espaço misterioso
Entre espaços desertos
Cujo sentido é nulo
E sem ser nada a nada.

E assim a hora passa
Metafisicamente.

- Fernando Pessoa -

segunda-feira, janeiro 02, 2006

Caixas vazias

Enfim.. Dizia eu que serviria este espaço para que as actualizações fossem mais frequentes, e eis que nada. Ainda por cima nesta altura em que há festa por todo o lado, feriados, celebrações, reencontros e desencontros, tanto para dizer por entre o tudo que já foi dito, e mesmo assim não sai nada. Talvez por causa disso mesmo, não tenha saído nada.

Estes foram dias amnesiantes, dias para esquecer outros. Dias que vêm à memória uma última vez antes de serem de lá varridos. Dias como retratos a preto e branco de desconhecidos, uns bonitos, outros feios, mas que não nos dizem nada. Dias. Apenas dias, como caixas vazias que se planeiam vir a encher com isto e com aquilo, mas que continuam assim, vazias, apesar do passar dos dias. Recebi uma carta de duas que contava receber e a caixa do correio como os dias: meios vazios.

Outros virão. Vêm sempre, mesmo quando não se quer que venham, eles vêm ou dizem que vêm ou nem dizem nada mas vêm na mesma, porque há deles que passam despercebidos, que não se distinguem entre si, de tão parecidos que são. Ou então sou eu que não os distingo, e nesse caso é apenas uma questão de esperar o dia que me abra os olhos.

sexta-feira, dezembro 23, 2005

As intermitências da Morte

Acabei de ler o último Saramago (As Intermitências da Morte). Para haver uma noção relativa sobre o meu conhecimento prévio da obra, antes deste havia lido "O Evangelho Segundo Jesus Cristo", "Ensaio sobre a Cegueira" e "A Caverna", senão por essa ordem então por outra parecida. Gostei de todos eles, mas mais que tudo, gostei bastante da forma como escreve.


Este livro apresenta-se sob o mesmo signo regente de quase todos os outros, ou seja: a história ancora-se numa premissa irreal, narrada em tom de amena cavaqueira, os personagens são designados pelos diferentes nomes das actividades de que se ocupam profissionalmente (o músico/violoncelista, a morte, o espírito que paira sobre as águas do aquário..), não tem localização geográfica específica e há um cão. A história pode resumir-se dizendo que conta a história de um país onde durante um determinado período de tempo, não morreu ninguém. É apresentado o quadro geral das consequências desse facto através de pequenos episódios de personagens ilustrativos, e o final da primeira parte é feito em tom de introdução para segunda, onde toda a narrativa se concentra basicamente em dois personagens - a morte e o músico - até ao final do livro.

O aspecto fundamental de todos os livros de Saramago que li, sempre foram os redemoinhos de consequências que ora derivam do tema central, ora se entrecruzam em outras histórias que vão sendo contadas e que tudo junto perfaz o livro. É nestas descrições de pequenos pormenores que realmente me vou saciando durante a leitura. São surpreendentes por começarem sem sequer se dar por ela e repentinamente conduzirem a uma conclusão atordoantemente afilada, mesmo assim nascidas, com rigens tão modestas. E estes simples pormenores e dissertações de enquadramentos comuns que levam a geometrias complexas, perfazem uma espécie de livro dentro do livro, um suporte tão curioso quanto o suportado. À semelhança de "A Caverna", foi este o motorzinho por detrás de cada página lida, e não há que duas vezes se é coisa que valha a pena ou não, porque é investimento com retorno garantido. Não será, no entanto, um livro para se recomendar a quem nunca leu Saramago antes, pelo menos aos mais impacientes de vós. A narrativa completa-se bem, mas tornou-se realmente viciante chegadas as últimas dezenas de páginas, quando o círculo fecha com acordes maiores. Acima de tudo é um livro que ensina. Que ensina não, que permite aprender. E isso só pode ser bom.


"O cão foi atrás dele para a sala de música, onde a morte os esperava. Ao contrário da suposição que havíamos feito no teatro, o músico não tocou a suite de bach. Um dia, em conversa com alguns colegas da orquestra que em tom ligeiro falavam sobre a possibilidade da composição de retratos musicais, retratos autênticos, não tipos, como os de samuel goldenberg e schmuyle, de mussorgsky, lembrou-se de dizer que o seu retrato, no caso de existir de facto em música, não o encontrariam em nenhuma composição para violoncelo, mas num brevíssimo estudo de chopin, opus vinte e cinco, número nove, em sol bemol maior. Quiseram saber porquê e ele respondeu que não consegui ver-se a si mesmo em nada mais que tivesse sido escrito numa pauta e que essa lhe parecia ser a melhor das razões. E que em cinquenta e oito segundos chopin havia dito tudo quanto se poderia dizer a respeito de uma pessoa a quem não poderia ter conhecido. Durante alguns dias, como amável divertimento, os mais graciosos chamaram-lhe cinquenta e oito segundos, mas a alcunha era por demais comprida para perdurar, e também porque nenhum diálogo é possível manter com alguém que tinha decidido demorar cinquenta e oito segundos a responder ao que lhe perguntavam. O violoncelista acabaria por ganhar a amável contenda. Como se tivesse percebido a presença de um tercei em sua casa, a quem, por motivos não explicados, deveria falar de si mesmo, e para não ter de fazer o longo discurso que até a vida mais simples necessita para dizer de si mesma algo que valha a pena, o violoncelista sentou-se ao piano, e, após uma breve pausa para que a assistência se acomodasse, atacou a composição. Deitado ao lado do atril e já meio adormecido, o cão não pareceu dar importância à tempestade sonora que se havia desencadeado por cima da sua cabeça, quer fosse por a ter ouvido outras vezes, quer porque ela não acrescentava nada ao que conhecia do dono. A morte, porém, que por seu dever de ofício tantas outras músicas havia escutado, com particular relevância para a marcha fúnebre do mesmo chopin ou para o adagio assai da terceira sinfonia de beethoven, teve pela primeira vez na longuíssima vida a percepção do que poderá chegar a ser uma perfeita convizinhança entre o que se diz e o modo por que se está dizendo. Importava-lhe pouco o que aquele fosse o retrato musical do violoncelista, o mais provável é que as alegadas parecenças, tanto as efectivas como as imaginadas, as tivesse ele fabricado na sua cabeça, o que à morte impressionava era ter-lhe parecido ouvir naqueles cinquenta e oito segundos de música uma transpiração rítmica e melódica de qualquer vida humana, corrente ou extraordinária, pela sua trágica brevidade, pela sua intensidade desesperada, e também por causa daquele acorde final que era como um ponto em suspensão deixado no ar, no vago, em qualquer parte, como se, irremediavelmente, alguma cousa ainda tivesse ficado por dizer."

Disturbed Piece

Este é um blog com o qual tenho tido contacto. Tenho encontrado lá frases e ideias que tenho apreciado bastante, mas acima de tudo são as emoções que transmitem que me têm mantido preso. A última foi "Sabes como me sentia só de saber que ia estar na tua presença?". Não consegui deixar lá um post, por isso deixo-o aqui.

É uma frase brutal. Não tem nada de difícil na sua interpretação, seja ela qual for (porque tem duas, lá chegaremos), e no entanto é a ideia que transmite por mim ressoando e ecoando na minha cabeça, que me faz reagir a ela. É sempre assim, eu acho: alguém diz algo de uma maneira que faz com que ganhe uma forma, estrutura, e é a partir dessa materialização interna que a ideia transmitida se torna passível de magoar, se for esse o caso, ou de rir, ou de pensar, como se as sensações precisassem de consistência para se propagarem. O facto de não ser de interpretaçlão difícil não o diminui. Só porque as ideias complicadas precisam de ser descodificadas antes de serem percebidas, não faz delas melhores que as que caminham às claras. Quando muito, entretêm o leitor durante a descodificação, nada mais.

"Sabes como me sentia só de saber que ia estar na tua presença?" é uma frase que faz pensar e depois de se pensar, faz doer. Suspeito que tenha tido origem uma única intenção, mas saiu assim, maravilhosamente dúbia. Não é erro, nem é acaso fortuito ou golpe de sorte. Não há tais coisas, mas disso falarei um dia. O que é verdade é que há uns tempos, ficaria despedaçado se alguém lesse no que escrevo algo melhor que aquilo que eu próprio consegui antever na altura em que o escrevi. Ficaria desolado com a ideia de o meu esforço todo se ter concentrado somente num objectivo e ter conseguido algo melhor mas inadvertidamente e sem eu próprio ter dado por ela, como se escavando no chão à procura de cinco cêntimos, os tivesse encontrado e saído dali todo contente, deixando à vista do próximo que por ali passasse o resto do tesouro. Não mais. O tempo ensinou-me que um texto é tanto daquilo que se escreve quanto daquilo que se lê. E mesmo que seja a mesma pessoa a fazê-lo, basta que o faça em alturas diferentes, em contextos diferentes, para que o resultado seja constantemente diferente - o que por si só dizia tudo.

"Sabes como me sentia só de saber que ia estar na tua presença?" - pode ter então, duas leituras consoante o significado que se der à palavra só. Assim pode ler-se "Sabes como me sentia, só de saber que ia estar na tua presença?", onde "só" significa "apenas", ou tal com está escrita e onde "só" pode significar "sózinha". E esta frase carrega muitas implicações, um novelo intrincado delas, mas o meu objectivo aqui está cumprido: fazer a apresentação e introdução ao tema e deixar as interpretações para quem lê, que é aí que está a piada desta coisa toda.

Quotidianidades?

Sim: quotidianidades. Um sítio onde poderei escrever sem me preocupar com o quê e tentar assim atingir dois objectivos: o de tirar algum prazer duma escrita livre e despreocupada e o de conseguir uma actualização mais frequente da que é possível nos outros dois blogs. O título não é disso exemplo. Deu trabalho e muito, e demorou tempo a sair. De qualquer das formas, foi de todos o que mais me deixou satisfeito.

Aqui falarei (eu e quem quiser dar-se igualmente ao trabalho) sobre textos de outros (poemas, livros, frases), sobre filmes, sobre ideias, sobre sonhos, sobre tudo e mais alguma coisa que me passar pela cabeça e sair pelos dedos.

Bom... prosseguindo.