Prazeres
Nota de Publicação:
Terminada a Guerra-fria, os conflitos no Afeganistão e no Iraque fizeram-nos regressar à Guerra Quente; desenterrámos o Grande Jogo de Kipling e voltámos aos tempos do choque entre o Islão e a Cristandade, com os novos assassinos suicidas do Velho da Montanha e os gritos de «socorro, os Turcos!».
Apareceu outra vez o fantasma do Perigo Amarelo, ressurgiram as disputas entre a Igreja e o Estado, a polémica antidarwiniana do século XIX e o anti-semitismo, e o nosso país voltou a ser governado pelos fascistas (muito post, é certo, mas alguns indivíduos ainda são os mesmos). Quase que parece que a História, cansada das confusões dos últimos dois mil anos, se está a enrolar em si própria, caminhando velozmente a passo de caranguejo.
Deixo também a tradução de um excerto de uma entrevista sobre o anterior livro "La misteriosa flama de la Reina Loana" (tr. A misteriosa chama da Rainha Loana), onde Eco faz o que eu adoro: unir os extremos de uma questão. O original pode ser encontrado aqui.
"Não conheço ninguém que tenha vivido apenas com Johann Sebastian Bach e Shakespeare. Vivemos vendo TV; ouvimos canções. Tenho sempre em mente um artigo de Proust: "“Éloge de le mauvaise musique,” ou elogio à má música. O que por vezes chamamos má música, a música popular, foi parte das nossas vidas e contribuiu para nos formar, tal como somos. Faz parte da nossa memória. Quando se faz um juízo de valor, podem fazer-se distinções - porque motivo Shakespeare é mais importante que Mandrake. Algumas pessoas dizem, "Estás interessado em cultura pop, por isso para ti, Shakespeare e Mandrake são a mesma coisa.". Isso é idiótico. Quando não nos nos embrenhamos em julgamentos críticos, mas ao relembrar como crescemos, a interligação entre cultura pop e alta cultura é total. Como categorizar a canção de embalar que a nossa mãe cantava quando éramos bebés - cultura pop? Alta cultura? As nossas vidas são feitas dos dois."
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