sábado, novembro 11, 2006

Dédalo

Enterrado vivo
num infinito
dédalo de espelhos,
oiço-me bem, sigo-me,
busco no liso
muro do silêncio.

Porém, não me encontro.

Apalpo, escuto, olho,
por todos os ecos
deste labirinto,
um meu dito esguio
eu sei que pretende
chegar-me ao ouvido...

Mas eu não o noto.

Alguém está preso
aqui, neste frio
lúcido recinto,
dédalo de espelhos...
Alguém que eu imito.
Se ele parte, afasto-me.
Se regressa, eu volto.
Se adormece, eu sonho.
"És tu?" eu me digo...

Mas nada respondo.

Perseguido, ferido
pelo mesmo dito
- que não sei se é meu -
contra o meu próprio eco
da mesma lembrança,
cá neste infinito
dédalo de espelhos
enterrado vivo.

- Jaime Torres Bodet (trad. José Bento)

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Às vezes é preciso procurar ver o que somos aos olhos dos outros . . .
V.

domingo, 03 dezembro, 2006  

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